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Prosa líquida com algo de pecuária

O meu amor se consome
em gestos vagos
imprecisos,
à tua quase indiferença,
em meus próprios gestos
tímidos
esconde e se reprime meu amor.

Há quase um abismo
entre nós:
todos os convencionalismos do mundo,
e os nossos,
mas há também uma sequência
assim delineada tenuemente
de sorrisos breves
e um sem-fim de pensamentos.

É a vida que burla de nós:
somos como as vacas
— que ruminam seu pasto à noite —,
ensimesmadas
com menos dignidade talvez,
porque elas são vacas sem que o saibam.

Há-que descobrir por trás dos gestos
o que eles representam,
não o amor de todos os dias
mas esse que nasce
e esvai-se em pensamentos.

Talvez um platonismo
— não importa sabê-lo,
mas senti-lo —
como a água que nas folhas
desliza e seu passo
é memorizado, se não o é,
pelo menos — para as folhas —
sorvedouro vital. 

                        Rio de Janeiro, 15-10-1962

                              


 

 

 
 
 
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